30 de set. de 2011

Quanto mais conheço as pessoas...

Coisinha difícil é lidar com gente.
Quem nunca ouviu a frase,"quanto mais conheço as pessoas mais prefiro os bichos"?
Pois é, por mais que soe meio anti-social, convenhamos amiga, como é difícil se relacionar com gente!
Eu, de uns tempos pra cá, me obrigo a concordar com essa filosofia de vida.

Quer um exemplo disso? Então tá:


Há cerca de uns três ou quatro meses, não sei de onde, apareceu em frente à minha casa um cachorro que parecia ter escolhido aquele lugar pra morrer. 
Magro, fraco, feio, machucado, mal mesmo.  
Amiga, sem exageros, se ele tivesse que dar um latido, ia ter que se escorar no muro de tão debilitado. 
Sensibilizadas, eu e uma vizinha colocamos água e comida, mas parecia que não ia adiantar muito. Ficamos horas pensando no que faríamos se ele morresse ali.
Pleno inverno, as noites estavam muito frias, mesmo assim ele ficou lá.
Nenhum pedacinho mais coberto ou coisa assim pra que ele pudesse se esconder, o que até justificaria ele ficar.
Como havíamos mudado a pouco tempo, chegamos a pensar que talvez fosse do antigo morador, e que ele  esperasse encontrar alguém.
Perguntamos a um e outro vizinho, mas nada, ninguém o conhecia da vizinhança.
Ele mal andava, chegamos à conclusão que alguém o tivesse deixado por ali pra morrer.
Bom, continuamos a alimentá-lo, e aí pudemos ver que se tratava de um vira-lata mestiço com algum cão de porte grande, desses de guarda. 
Um, dois, dez dias se passaram e ele começou a se recuperar. Já dava alguns latidos mais fortes quando algum estranho chegava próximo à entrada da casa.
Mas, pela lógica, éramos todos estranhos à ele, então começamos a ficar com medo, e se ele mordesse alguém?
Deixamos de dar ração, colocávamos só água. 
Ele já estava melhor, e não tendo mais comida, acabaria indo embora.
Que nada.
Os dias passavam, ele cada vez mais forte, mais bravo com os estranhos e mais fiel conosco. Ficamos com pena e voltamos a lhe dar ração.
Eu, quando chegava do trabalho era recebida com abanos de rabo, e ao sair pela manhã, era escoltada por ele até o ponto de ônibus.
Confesso que comecei a me simpatizar de verdade, assim como os vizinhos próximos, já que ele agora fazia o trabalho de "segurança" da rua, olhando as outras casas também.
Todo mundo o alimentava, mas ele comia e voltava pra frente da minha casa.
Não tenho portão, apenas uma corrente que separa a calçada da entrada principal, (mas vai tentar pular essa corrente) o que o deixa livre.
Tive problemas com o cara da água, da luz, com o carteiro, ninguém queria se arriscar com ele ali. 
Sempre que saio, ele me acompanha até um certo ponto do caminho, e volta. 
Dia desses ele sumiu, minha filha de três anos ficou me perguntando pelo "cachorro dela", que aliás nem nome tem, achamos que ele tivesse finalmente ido embora, mas que nada, meu vizinho disse tê-lo visto numa rua próxima atrás de uma cachorra no cio.
Opa!
O bicho tá tão forte que já pensa até em procriar.
Não demorou ele estava de volta, todo alegrinho.
Os meses passaram e ele continua aqui.
Soube que um cara bateu muito nele com um cabo de vassoura, justificando que o cachorro havia tentado mordê-lo. Quem viu, diz que o bicho agarrou o pedaço de pau com os dentes e partiu ao meio. 
Sempre que esse cara aparece, eles se estranham um pouco, e ele me diz que é melhor dar fim no cachorro.
Mas me fala aí:  ele bate no cachorro e quer ser recebido com tapete vermelho? 
Bom amiga,  isso explica que os animais, mesmo sendo "irracionais" têm por natureza uma coisa, que gente não tem:
LEALDADE!

Nossa, como é dolorido esse negócio.
Há situações em que, tudo que você precisa pra manter a sanidade mental, é ter alguém leal por perto.
Sabe aquela pessoa que diz "tô com você pro que der e vier" ?
Pois é. Nem precisa chegar dando uma voadora no caso de cruzar com você envolvido numa briga (porque dizem que amigo de verdade é esse, e não aquele que separa ).
Eu amiga, do meu lado, peguei um medo de gente que nem sei.
As maiores dores que já senti na vida foram causadas justamente por aqueles a quem eu mais tinha a tal consideração.
Amigos, família, amores, afetos e afins...
Gente te machuca mesmo, sem dó nem piedade.
É diferente do meu "segurança" lá fora. 
Ele pode até me morder amanhã, mas acho que pra isso eu teria que maltratá-lo antes, ou então, ele acordar uma manhã dessas literalmente contaminado com a "raiva", e virar um "cachorro louco".
Gente não, gente é maluca mesmo e enlouquece do nada!
Com gente, a coisa é sem prévio aviso, ás vezes nem dá tempo de vestir sua couraça de aço.
Gente, te pega desprevinido.
O momento mais oportuno, é sempre o mais inoportuno possível.
Pior ainda se o negócio envolve algum sentimento mais complicado. 
Tipo paixão, por exemplo (pronto, falei). 
Você tá na pior, tá apaixonada e resolve confessar isso pro sujeito. 
Noites e noites fritando na cama e você decide dizer o quanto é bom estar com ele e, blá blá blá, "ele" liga, e marca um encontro.
É a sua deixa.
Você ensaia, revê as últimas aitudes e tudo leva a crer que ele tá tão afim quanto você.
Engano seu querida! Ele escolheu justo esse dia pra ser "sincero".
Se eu pudesse te diria: "corre!", mas desavisada você vai, e ele acaba com o restinho de fé na humanidade que você tem.
O chamado "tiro de misericórdia"
Com gente, o lance é assim, tudo começa com um: "na boa?".
No mínimo, ele acha que você tá morta, não vai doer nada, porque se parasse pra auscutar seu coração antes, veria que você tá vivinha, e que tem coisa que dói uma barbaridade a gente ouvir.
Deveríamos é ser colocadas num monitor cardíaco antes de encarar uma situação dessas!
Porque mesmo que seja verdade, tem coisa que ninguém merece.
Ah, e não satisfeito, pra fechar com chave de ouro, ele solta um "desculpe, mas eu estou sendo sincero".
Ah não filho! Até sinceridade tem limite!

Um dia desses, me vi numa roubada dessas. 
Enquanto ele me dizia com toda "sinceridade" do mundo, que eu havia dado o azar de ser a primeira amiga mulher que ele tinha, eu sentia meu coração dissolvendo igual um "sal de frutas", fui me desligando da cena e me concentrando numa fila imaginária atrás dele. 
Ele, puxava o cordão daquela Festa do Caquí, com um punhal na mão. Cada frase uma punhalada. Uma frase, uma punhalada, uma frase, uma punhalada. E assim, todos da fila foram se revezando. 
Pessoas que passaram pela minha vida e tinham sido tão "sinceras" quanto ele, estavam ali, e o punhal de mão em mão: próximo, próximo, próximo...
Comecei a rir, e percebi que não havia escutado grande parte do discurso que ele fazia para justificar tamanha "sinceridade".
Vê se pode?
Sou, ou não sou, obrigada a concordar com o autor da tal frase?
Mas, quem sabe amanhã eu escreva de novo sobre esse assunto, e venha "desdizer tudo isso".
Quem sabe amanhã, meu coração melhore, cicatrize, e esse medo passe.
Porque hoje, se alguém me perguntar, vou dizer que, "tenho medo de gente".
Tenho medo sim,
porque gente, machuca gente.
porque dói, e demora a passar.
dói, e quase sempre não sara.
fica ali latejando, latejando.  
você não demonstra, diz: " já passou". 
mas tá ali, doendo, doendo...
você pensa que esqueceu, 
mas na verdade, se acostumou, 
porque de tanto doer, você muda...
muda, e fica assim, "com medo de gente".
porque tem gente,
que não sabe lidar nem com bicho,
que dirá lidar com gente,
a gente acaba, com medo da dor que dá, quando a gente gosta de gente,
quando a gente dá amor,
e no fim, só fica a gente...

Fui!









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e pelo zunido das suas asas você me falou...